O luto de filhos vivos...
Quando perdi meus dois filhos
Eu também ali morri
O sol não tinha mais brilhos
E eu nunca mais sorri
Me deparei com a maldade
Como sendo a vencedora
Vilipendiando a bondade
Sempre nossa redentora
O bem sempre vencerá
Mas o estrago do caminho
No coração marcará
Um choro triste e sozinho
O fascismo se instalou
Nesse Brasil varonil
Aos meus filhos cooptou
Roubando-os da Mãe Gentil
Nessa desgraça tamanha
Vi meus filhos transformar
Suas vidas em barganha
E seus sonhos afundar
Nossa família ‘perfeita’
Forjada num grande amor
Se quedou e foi desfeita
Nos causando tanta dor
Como mãe jamais pensei
Ser traída por meus filhos
Com amor lhes ensinei
A enfrentar os empecilhos
A tragédia demonstrou
Que o poder do mal existe
Pois ela nos transformou
Nesse caso assim tão triste
Perder nossos filhos vivos
Não existe maior dor
Não temos adjetivos
Que contemple o usurpador
Afundada em tanta dor
Tentando lhes resgatar
Aqui grito o meu clamor
Me ajudem a lhes salvar
Um sistema podre e falso
Que só vislumbra poder
É contra ele que alço
Minha voz que é só sofrer
A voz das mães do Brasil
Necessita se reunir
Para abolir o fuzil
E resgatar o porvir
Eu tenho vivido incrédula
Com tudo que conheci
Por isso faço essa cédula
Contando que adoeci
A decepção enferma
Como lança que perfura
Para mim escleroderma
Atingiu até a ossatura
Quem compactua com o mal
É um morto-vivo eu sei
Saiam desse lamaçal
Lembrem tudo que ensinei
Eu vos suplico meus filhos
Que retomem a consciência
Removam os empecilhos
Emergindo com decência
Mãe
(em luto de filhos vivos, cooptados
e desgraçados quando da instalação do fascismo no Brasil)
Carmen Pio
23.09.2023
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