TESTEMUNHO
TESTEMUNHO
Faz algum tempo, escrevi um pequeno relato sobre minha
história e vivência com a ‘Esclerodermia’,
para o qual dei o título ‘UM POUCO DO QUE APRENDI’
(https://61anosdemuitashistorias.blogspot.com/2020/03/um-pouco-do-queaprendi-euportadora-de.html).
Repassei
para muitos amigos, pacientes como eu, publiquei na Internet, alguns periódicos
e revistas o publicaram também. Jamais imaginava que teria um retorno tão
expressivo e que atualmente tantas pessoas estariam acometidas desse tipo de
doença.
Pensei
em escrever minha vivência, minhas experiências e meus infinitos aprendizados,
reflexões, exatamente para que outras pessoas tivessem a oportunidade de saber
que é possível sobreviver e conviver com a doença. E aprender muito com ela,
crescer, amadurecer, e ter um olhar muito mais humano, empático e sereno sobre
a vida. Não é fácil, mas, como tudo, é preciso esforço, determinação, resiliência,
resignação, rotina, persistência, paciência, organização, metas, objetivos
claros, e, principalmente, vontade de viver, muito amor pela vida, fé e confiança.
Recebi
mensagens de apoio, incontáveis pedidos de ajuda e de esclarecimentos, de
indicação de médicos e hospitais, e de fórmulas para conseguir ‘levar a vida’,
etc. Todas as mensagens recebidas, vindas de todas as regiões do Brasil, da
Argentina, de Portugal, de diversos lugares do mundo, me levaram a uma profunda
reflexão, que, depois de muito avaliar, conclui que as incertezas, as dúvidas,
a desinformação total sobre a doença, a falta de apoio e afeto por parte de
familiares, amigos, colegas de trabalho, chefes, e a precariedade da saúde
pública, colaboram para que esse tipo de doença se desenvolva de forma
assustadora e fatal, quando se tratada com seriedade, competência, respeito e
atendimento adequados ela poderia, inclusive, ‘estacionar’.
Não
falo em curar, porque essas doenças, como lúpus, artrites e esclerodermia,
ainda não têm cura. Mas, afirmo, quando tratadas a tempo e bem atendido,
esclarecido e encaminhado o paciente, elas podem estacionar e a vida poderá ser
levada normalmente ou quase isso, dependerá da maneira como cada paciente
aceitar e encarar a situação e como lidará com ela. Para tanto, é necessário
que os profissionais de saúde estejam preparados, informados, apoderados de
toda sorte de conhecimentos a respeito dessas patologias. A informação é um
instrumento poderoso de cura e, nesses casos das doenças autoimunes, serve para
a exitosa contenção da doença. Quanto mais informado e orientado for o
paciente, mais serenidade terá nos manejos terapêuticos, com chances enormes de
estacionamento das doenças.
A
angústia e a ansiedade geradas pelos fatores acima, aliadas à falta de amparo
familiar e institucional aos pacientes, aceleram a doença, agravando os
sintomas e desencadeando chances concretas à sua instalação definitiva e fatal
ou por bom período de tempo.
O
controle do estresse e as oportunidades de construção de uma vida mais tranquila
aos portadores das doenças autoimunes são fundamentais, tanto durante o manejo
terapêutico quanto para toda vida do paciente. Os estados de angústia e
ansiedade estiveram presentes em todas as mensagens que recebi em retorno ao
relato sobre minha experiência com a Esclerodermia. A desinformação acarreta
esse desconforto, pois as pessoas não sabem o que está acontecendo com elas e
nem onde procurar ajuda ou esclarecimento.
Grande
número de pacientes relatou que nem mesmo nos Postos de Saúde, Hospitais e até alguns
médicos para onde se dirigiam, ninguém sabia diagnosticar. Sendo assim,
desorientados, passaram por vários atendimentos, experimentaram diversos
tratamentos, deslocaram-se de suas cidades, fizeram viagens e gastos
desnecessários e para os quais não tinham condições, além de ver a doença
avançando, o medo tomando conta e a insegurança cada vez maior. Este estado de
ânimo resulta em agravamento demasiado da evolução da doença.
Para que
possamos avançar nas buscas pelo conhecimento das causas dessas doenças, é
fundamental que a informação e a aproximação entre os pacientes aconteçam. Também entre os médicos, enfermeiros,
assistentes sociais, psicólogos, fisioterapeutas, etc. Tal aproximação poderá ocorrer
através da criação de grupos de estudo, de convivência, de apoio, de
representação.
Os
testemunhos dos pacientes servem para eles próprios aliviar suas angústias e
ansiedades. É importante poder falar sobre a situação vivida. Esses depoimentos
colaboram, também, para com outros acometidos desses males, pois tomam
conhecimento de que não estão sozinhos e que aqueles sintomas não são somente
seus, além de proporcionar aos médicos, pesquisadores e estudiosos, material
rico para o prosseguimento das pesquisas e do avanço das descobertas de novos medicamentos
e novos manejos terapêuticos.
Como
portadora de Esclerodermia, alerto e recomendo que todos aqueles que também são
portadores de alguma das doenças autoimunes e reumáticas de colágeno, em prol
da evolução das pesquisas para descoberta de novos medicamentos e quiçá da cura
desses males, ofereçam seus testemunhos, escrevendo sobre suas experiências ou
procurando por grupos de ajuda e apoio e relatando suas vivências, pois,
somente com esse material, com a riqueza de detalhes vividos, de sintomas, de
especificidades, etc., que os pesquisadores vão avançando e descobrindo novos
caminhos, às vezes alertados por um paciente totalmente leigo para assuntos da
ciência médica, mas, profundo conhecedor, observador e expectador daquilo que
vem acontecendo com seu corpo e na sua vida.
Como já
referido, é questão de relevância médica e social a aproximação entre
portadores dessas patologias. As experiências com a doença, vividas
solitariamente, são muito sofridas, tanto física como emocionalmente. Essas
mesmas experiências partilhadas com outros pacientes que já vivenciam o
problema há mais tempo ou que têm maneiras mais positivas de aceitação, poderão
ser mais brandas e mais pedagógicas.
É
necessário reaprender a viver, utilizando de todos os instrumentos que se
apresentarem disponíveis, além de se fortalecer para o enfrentamento de todas
as adversidades que certamente ocorrerão.
Espero,
através desse relato, aumentar o número de ‘amigos’ que vivenciam o mesmo
problema e que, a cada dia, possamos informar mais à população, divulgar locais
de atendimento, indicação de médicos especialistas, clínicas, hospitais, grupos
de apoio, revistas sobre o tema. Cada um de nós, pacientes portadores de
doenças autoimunes, deve e pode ser um veículo de informação e esclarecimentos,
pois somente com essa postura poderemos aliviar a dramática situação de tantas
e tantas pessoas que ainda sofrem sem ver uma luz no final do túnel. Sejamos
essa luz!
Indico
para esclarecimentos os sites:
https://www.youtube.com/channel/UCeSgho1y8OYVg_XYP3LInLQ
https://drvonmuhlen.net/
https://www.sobrau.com/
http://www.grupal.org.br/
http://www.asclero.org.br/
https://abrapes.org.br/
https://www.reumatologia.org.br/
Coloco-me à disposição pelo e-mail:
carmenprs@yahoo.com.br
Carmen Pio
Porto
Alegre/RS
(Artigo
original de 2009 reeditado em 2020)
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